segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aventura pelo interior da Rússia - Vladimir e Sùzdal

Seguidores e Seguidores,


Ontem, dia de viagem pelo interior da Rússia, retornamos muito tarde da noite porque, nos finais de semana os russos saem de suas cidades para irem para suas datchas, casas de campo, para descansar. Disso resulta, no final da tarde e noite de domingo, um monstruoso engarramento em todas as estradas que dão em Moscou. Assim, tendo a volta demorado o dobro de tempo da ida, chegamos por volta das 22 horas, fomos jantar e cama. Aqui, porém, estão as novidades.

Primeiro, gostaríamos de dizer que na postagem de ontem esquecemos de mencionar que, depois do Kremlin fomos visitar a Galeria Tretiakov, o mais importante museu de arte russa aqui de Moscou. Valeu muito a pena. Primeiro passamos pelas artes sacras, que não perdem para aquelas semelhantes que vimos mundo afora. No que se referem às pinturas, num primeiro momento, as mais antigas, das épocas dos primeiros czares, eram de mais baixa qualidade, com muitas desproporções. Na época de Pedro, o Grande, ele mandou os artistas fazerem um estágio com pintores da Holanda e da França. Daí prá frente vimos pinturas de altíssimo nível e de beleza comparada aos melhores da Europa Ocidental. O destaque são as pinturas de naturezas russas e um pintor que se destacou por pinturas retratando a tragédia das milhares de mortes nas guerras através dos tempos. Para quem gosta de arte, um prato cheio.

Ontem saímos bem cedo para adentrar o território russo em 220 kms, para irmos conhecer a antiga capital Vladimir e Sùzdal, uma das mais importantes cidades turísticas do interior e, mais importante, queríamos ter uma visão de como é o interior do País, suas pequenas cidades, seu ecossistema. Foi chocante. Decepcionante.

Na nossa cabeça imaginávamos que até sairmos da grande Moscou encontraríamos uma ampla região urbanizada e, aos poucos, entraríamos em região menos habitada, de agricultura, pequenas cidades aqui e acolá, etc. Que nada. A transição foi brusca e estanque. Mal saímos de Moscou e já estávamos numa paisagem de interior, bem interior. Só florestas de um tipo único de árvore, na beira da estrada casas velhas, quase caindo, embora demonstrassem que num passado longínquo haviam sido lindas, com suas janelas ricamente decoradas e pintadas de cores fortes. As pequenas cidades, sujas, sem calçamento, feias e mal cuidadas. Os cruzamentos de pedestres feitos em faixas nas rodovias, em retas intermináveis, com perigo real de atropelamento, sendo que passamos por um recém acontecido. As estradas, quase sempre duplicadas mas, em boa parte, sem guard rail a dividi-las. Os constantes acidentes, acabavam por repercutir nas quatro pistas. E esta paisagem se repetiu até a cidade de Vladimir.

Em Vladimir, pouca coisa turisticamente importante para se ver. Do antigo Kremlin, desta antiga capital medieval da Rússia, pouco resta. Uma pequena igreja particular dos nobres, com rica decoração em sua parede exterior, com muitos leões com jeito de gato já que, como não conheciam leão, aqui não existentes, ouviam que era um gato com cabeça e boca grandes. O resultado foram altos relevos de leões muito engraçados.

Restou também, a catedral da Assunção, construída entre 1158/1160, que tem seu interior ricamente pintado e decorado por Andrei Rublev. Na sua frente, uma praça com uma das poucas estátuas remanescentes de Lenin.

O que nos impressionou foi a posição da cadeia de Vladimir, bem no centro nobre da cidade. Era a cadeia política da época do regime comunista, para que todos a vissem e se lembrassem para onde iriam caso não se enquadrassem. Hoje permanece lá como prisão comum.

Quanto ao mais, a cidade oferece uma vista infinita da grande planície que é a Rússia e nada mais de interessante.

Dali rumamos para Sùzdal, cerca de 35km adiante e que, segundo a guia é uma das cidades com maior afluxo turístico da região. A rodovia era uma projeto de Stalin, para ligar Moscou à China, numa extensão de 10000 kms. Foram completados apenas mil. Com a morte de Stalin, Kruschov abortou o projeto. Seguimos por essa rodovia, agora ladeada por grandes campos cultiváveis já que a terra daqui é muito fértil, especialmente para cultivo de todo tipo de grão.

Quando nos aproximamos da cidade, ao longe já pudemos divisar uma profusão de torres de igrejas de todos os tipos e cores. A cidade é pequena, com
cerca de 11000 habitantes, mas conta com 33 igrejas. Cada ordem, ou família importante construía pelos menos duas igrejas, uma para o inverno e outra para o verão. Daí que a cidade é quase só igrejas. Como suas cúpulas são em forma de cebola e coloridas, forma um espetáculo de visão. A cidade, porém, é carente de estrutura turística. A rua de entrada não tem nenhum atrativo e não tem calçadas. O deslocamento de um ponto de visita a outro era feito precariamente, por ruas esburacadas e sem calçamento. Os hotéis, apesar de em prédios novos, nada tinham de bucólico ao seu redor. No mais das vezes você sai do hotel e dá direto numa rua sem calçamento ou sem calçada pavimentada.

Nessas condições, passamos na grande praça do comércio, onde se realizava uma feira. Dali fomos visitar o Kremlin de Sùzdal, não sem antes passar pelo corpo de bombeiros com sua linda torre de madeira ainda preservada. No Kremlin, que em russo, significa fortaleza, destaca-se uma torre com um relógio com letras, ao invés de número, como era usual aqui na Idade Média, e sem a segunda letra do alfabeto, que é sinal de má sorte. Assim, da primeira letra que é meio dia passa-se diretamente para a terceira letra, que marca uma hora. Ali também está a Catedral Preobrazhensky que, como a de Vladimir, destaca-se pelos seus afrescos da Idade Média e pinturas com cores bem fortes, além de um altar enorme que se estende até o alto da igreja.

O ponto alto de Sùzdal, porém, ainda estava por vir. Passando por caminho precário, por uma estreita ponte de madeira a cruzar um rio largo, chegamos no Museu de Arquitetura de Madeira. Sensacional. Casas e igrejas antigas, trazidas do interior de toda esta região da Rússia, formam um belo conjunto que dão uma perfeita noção de como viviam os povos da antiguidade neste gelado e inóspito lugar.

A Igreja era feita de dois tipos de madeira. Na parte inferior, uma madeira que com o tempo ia ficando mais escura e na cúpula e nos telhados, um tipo de madeira daquela da região que com o passar dos anos vai ficando prateada. Incrível. Quem olha pela primeira vez e não é alertado, jura que a cúpula é feita de prata. Algumas áreas do teto tiveram que ser recentemente repostas e pudemos ver nitidamente o processo de transformação.

Depois, visitamos duas casas, por dentro. A casa de uma família mais pobre e a casa de uma família mais rica. Os detalhes são interessantíssimos. Uma grande estufa, na região central das casas, era fogão e fornecia além do aquecimento, com uma das camas sobre ela, a possibilidade de um banho de vapor, jogando-se água sobre ela e entrando parcialmente na estupa, era uma espécie de sauna rústica. Na casa dos ricos, vários móveis e implementos que eram colocados bem à vista para que as visitas vissem o quanto rico eram. Tinham também, vários trenós para andar na neve, coisa que os pobres não tinham. Uma parte das casas, onde estava a estufa, era  também dormitório de inverno e outra parte, com paredes menos grossas, era dormitório de verão. Imperdível.

Dali passeamos pelo local onde havia um poço com uma grande roda que era movida por duas pessoas para retirada da água, por dois moinhos de vento, que eram muito comuns nesta região, além de outras estalagens ali existentes.

Um lugar incrível e que merece ser visitado para quem quer ter uma visão mais completa deste enorme País.

Por volta das 16,00 horas, iniciamos o retorno e, consequência dos enormes engarrafamentos de final de domingo, percorremos os 220 km em cerca de 6 horas. Por isso, quem vier para cá e pretender fazer o mesmo passeio, não aconselhamos fazê-lo nos domingos ou feriados.

Hoje teremos mais um pouco de Moscou, e amanhã adentraremos mais profundamente na Rússia para visitarmos Kazan. Até mais. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Igreja particular, em Vladimir, externamente decorada

Na parte superior, a decoração

Visão de uma região de Vladimir

Do alto de uma murada de barro, que cercava Vladimir, visão da imensidão da planície russa

Catedral da Assunção, Vladimir

Idem

Praça de Vladimir, em frente à Catedral

Uma das 33 igrejas de Sùzdal

Praça do mercado de Sùzdal

Mais igrejas em Sùzdal

Prédio dos bombeiros, com sua antiga torre de madeira, Sùzdal

Catedral no Kremlin de Sùzdal

Torre no Kremlin de Sùzdal, com relógio com letras ao invés de números

Altar da Catedral de Sùzdal



Visão do interior da Catedral

Kremlin de Sùzdal

visão do Kremlin

Precária ponte que atravessa o rio até o Museu de Arquitetura de madeira

Igreja do museu com teto e cúpula de madeira prateadas

Idem

Detalhe da decoração das casas antigas de madeira

Interior de uma das casas, com berço, mesa e outros detalhes

Estufa, importante no interior das casas, para enfrentar o frio de menos 30 da região

quarto de mulher, com enxoval

Visão do interior das casas, com detalhe para o santuário ao fundo

Poço de água movido à roda

Visão das casas do museu de Arquitetura de Madeira

Moinhos de vento, tão comuns aqui como na Holanda



Um comentário:

  1. bonito,sim, porem custa muito viajar na russia,
    mais/menos uma viagem p/russia dá para fazer quatro viagens para qlqr grande cidade brasileira
    não incluir hospedagem e alimentação e transporte
    e as vezes guias ...mesmo falando russo (meus caso)

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