sexta-feira, 29 de março de 2013

Hotel fazenda no Punjab

Seguidores e Seguidoras,


Ontem, depois das emoções que tivemos na visita ao Templo de Ouro, em Amritsar (e que já está publicado na postagem anterior a esta), saímos cedo para mergulhar fundo no interior do Punjab, no País Sikh, extremo norte da Índia, quase na fronteira sul do Paquistão e próximo do Himalaia. A estrada, de 75 km é horrorosa. Como vimos muito na Índia, a estrada está em fase de duplicação mas, com foi toda mexida e as obras estão paradas em muito trechos, virou um inferno viajar por ela, especialmente pelo seu estado e ausência de sinalização, tudo sem contar passar pelo caos que são as pequenas cidades e povoados onde a estrada passa bem no centro. Por isso, demoramos quase três horas para chegarmos no hotel fazenda de Saidowal, o The Panjabiyab. 

São quatro cabanas feitas de argila e palha, localizadas literalmente no meio de um trigal e plantações de mostarda, com uma área com cadeiras e mesas para contemplação da natureza que está a um passo, uma ampla suíte adequadamente decorada para as circunstâncias, mas muito confortável e, sobre a casa um amplo terraço de onde se tem uma visão panorâmica completa daquele lugar mágico.

Fomos recebidos pelo administrador do hotel e por um garçon que nos serviu um gelado suco de limão. Colocadas as malas na cabana, fomos convocados para o almoço, já que passava das 13,00 h. Ficamos impressionados pela qualidade do serviço, do sabor da comida e da sua apresentação. Um serviço no estilo inglês.

Depois do almoço, regado com uma cerveja local, fomos tirar uma soneca, para nos recuperarmos da viagem cansativa. Quando acordamos, nos foi servido um chá, café e cookies regionais e, logo em seguida, o administrador do local nos convidou para fazer uma passeio de trator pela região. Foi surreal.

Um trator novo indiano, vermelho, dirigido por um Sikh de turbante e, surpresa, um cd player, com duas potentes caixas de som, tocando música romântica e rock americanos e até Shakira. Pensamos que era exclusividade daquele trator mas depois constatamos que todos os tratores naquela região já vem equipados com som. Um barato.

Os blogueiros sentados sobre os suportes das grandes rodas traseira, o condutor e o guia dividindo o mesmo assento, saímos a balançar pelas estradas de roça e as interioranas daquela região. Primeiro visitamos um acampamento de uma tribo da região especializada na criação de búfalos num pequeno espaço. Na estrada, passamos por várias dessas comunidades, sikhs tradicionais a pé ou de moto e carros de boi. O blogueiro voltou à sua infância na roça. Depois de uma longa  peregrinação pela região, conhecendo os costumes locais, o condutor nos levou até um templo sikh da comunidade, próximo do qual está sendo construído um grande hospital que servirá o povo daquele zona rural distante.

Na volta nos esperava o garçon, agora com um caldo de cana com hortelã e limão, bem gelado. Um luxo.

Depois de um banho para tirar a terra da tarde de trabalho no campo, fomos para o jantar de comida típica punjab, acompanhado de um vinho cabernet siraz, produzido aqui na Índia. O jantar, de altíssima qualidade e apresentação, impressionou mormente considerando tratar-se de um pequeno hotel num lugar remoto, no meio de vastas plantações. O vinho, apesar da origem, também não desapontou.

Como estava frio, jantamos no interior da casa sede. Quando saímos, um espetáculo inebriante e indescritível. Lua cheia brilhando no céu quase como um sol, espalhando um pó de luz sobre o trigal, formando um cenário hipnotizante e que se compara apenas a um assim que tivemos, com lua cheia, no Rio do Rastro Eco Resort. Ficamos na área da nossa cabana, inebriados por aquele cenário único, de luz, natureza, silêncio, estrelas... Fantástico.

Para arrematar, por volta das 22,00 aparece o garçon com chá, café e cookies regionais para chamar um bom sono. Imaginem sorver aquilo naquele cenário de quase dia, tão forte a luz da lua a refletir no trigal.

Quando acordamos hoje, o foi pelo toque do garçon, agora querendo servir a entrada do café da manhã na cama. Preferimos fazê-lo na área, apreciando o amanhecer no campo, com o trigal prateado pelas gotas de orvalho, da tênue névoa que pairava sobre ele. Próximo, dois senhores velhos sikhs, de turbante laranja, colhiam a mostarda madura. Esse clima se estendeu até o café da manhã, servido com a mesma qualidade do almoço de do jantar.

Certamente que não poderia haver melhor fim de viagem, embora reconhecemos que, nas condições da estrada para lá chegar, é muito arriscado fazer este passeio no último dia. Entendemos que o melhor seria ficar lá por dois dias e não no fim da viagem, pelos riscos da estrada que poderiam inviabilizar o início do retorno para casa.

Tudo, porém, deu certo e já estamos no ótimo Hilton de Mumbai, esperando para sairmos para o aeroporto para, às 4,20 da manhã, iniciarmos o retorno para casa. Ainda faremos uma postagem sobre o nosso guia e o relatório final da viagem, este prometendo muito pela complexidade que ela apresentou. Até lá. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.


A blogueira, no terraço da nossa cabana do Hotel The Panjabiyab, no Punjab indiano

O blogueiro, na escada que dá no terraço da cabana

A cabana onde ficamos hospedados

Nosso guia Jaideep, no meio da mostarda já colhida 

Os blogueiros, na mostarda colhida

Os blogueiros, com o trigo e o hotel ao fundo

A casa sede e as quatro cabanas confortáveis do The Panjabiyab

O Trigal a perder de vista

O administrador do hotel e condutor do trator e os blogueiros se preparando para um aventura rural no Punjab


Búfalos da criação de uma tribo local especializada nisso


Crianças colhendo feno para os búfalos

Carro de boi na estrada

A beleza das estradas agrícolas do Punjab

Mais criações de búfalos em pequeno espaço, típico da região


Templo Sikh, em Saidowal, onde fica o hotel


Os blogueiros e o administrador do hotel, preparados para a visita do templo sikh

Fiéis chegando para as orações em foto com os blogueiros

O blogueiro conduzindo a blogueira, no trator da fazenda do hotel

O templo sikh

A estrada de chegada no hotel

Chaminé da casa sede do hotel, com o trigal ao fundo



O Templo de Ouro - Meca Sikh no Punjab

Seguidores e Seguidoras,


Por problemas com a internet em Amritsar, não pudemos postar o que fizemos antes de ontem, nem ontem. Por isso, primeiro vai o que fizemos em Amritsar para, só depois, numa outra postagem, vai a vida no campo no interior do Punjb, o País Sikh.


Foi um dia especial. Conhecer um pouco mais de Amritsar e, especialmente, o Templo de Ouro, a Meca mundial dos Sikhs. Pensávamos que a cidade de Amritsar era um pouco mais cuidada e diferente da Índia normal. Ledo engano. É a mesma coisa. O que a difere das outras é o magnífico Templo de Ouro.

Amritsar, fundada em 1577 por Ram Das,  quarto guru sikh, foi construída em local doado pelo imperador mongo Akbar. Localizado no coração da cidade está o Templo de Ouro, o mais sagrado para a comunidade sikh, rodeado por um labirinto de  ruelas e 18 portões fortificados. 

Antes de visitar o Templo de ouro, fomos visitar um lugar muito significativo para esta região, o Jallianwala Bagh, onde houve o terrível massacre de 1919. Centenas de manifestantes desarmados foram baleados neste jardim fechado por ordem do General inglês Reginald Dyer, que comandava um pelotão de infantaria de Jalandhar. Esse incidente contribuiu par acelerar o fim do domínio britânico na Índia. No local morreram mais de 300 pessoas baleadas sem poderem se defender, sendo que uma grande parte delas se jogou num poço ali existente  para não ser assassinada friamente. Hoje, no local, um belo jardim, com museu representativo do evento e com as paredes ainda crivadas de bala, das construções existentes na época, naquele local.

Dali fomos conhecer o magnífico Templo Dourado dos Sikhs. Antes de entrarmos tivemos que colocar um lenço na cabeça e, descalços, lavar os pés e as mãos em local apropriado para isso. Nem tão apropriado, porque a água para lavar os pés estava ali  parada numa depressão, para uso de todos.

Centro espiritual da religião Sikh, o Templo de Ouro foi construído em 1589 e 1601 e constitui uma bela síntese dos estilos arquitetônicos e hindu. Para manter a tradição sincrética daqueles tempos, a pedra fundamental foi lançada por um santo muçulmano, Mian Mir. Quase destruído em 1761 pelo Shah Abdali Hamad, invasor afegão, recuperou-se anos mais tarde com o marajá Rajit Singh, governante do Punjab, que recobriu a cúpula com ouro e embelezou o interior com decoração suntuosa. 

O complexo do templo constitui uma cidade dentro da cidade, e a entrada principal é pelo portão norte, conhecido como Darshani Darwaza, que também abriga o central Sikh Museu. Degraus descem até a Parikrama (passarela de mármore) que circunda o Amrit Sarovar (tanque de néctar, de onde vem o nome da cidade), e o santuário principal, o Harimandir (templo de deus), com cúpulas de ouro. Diversos locais santos e históricos ladeiam o templo. 

O local inspira muita paz e os princípios da religião nos encantaram. Todos são considerados iguais, começando por homens e mulheres. Todos têm que vir ao templo, seja de que classe social for e, lá, voluntariamente, têm que se despir das suas vaidades, inclusive o primeiro ministro e sua mulher, e ajudar a limpar o local, fazer e servir comida ou trabalhar nas obras que lá ocorrem. Todos os peregrinos da religião ou não, têm direito a comida grátis, num refeitório próximo do templo. O lago está sempre limpo, tendo alguém sempre cuidando disso.

Ficamos um tempo ali, a sós, respirando aquele ar de paz, igualdade e tranquilidade. Um clima que naturalmente flui daquele lugar especial dos Siks. Recomendamos muito a visita a esta que é a região mais rica da Índia e para conhecer esse povo, os homens com seus turbantes coloridos e roupas brancas, a mulheres com uma calça larga, presa no tornozelo, tipo uma bombacha, ma uma gente muito pacífica e acolhedora. Ontem mergulhamos fundo no interior desta região, o Punjab, bem no norte da Índia, próxima do Himalaia. É assunto, porém, para outra postagem. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.


O centro antigo de Amritsar, no Punjab, como toda a Índia

O Jallianwala Bagh, local do massacre inglês aos moradores indefesos locais


Poço onde centenas de pessoas de jogaram para não serem mortos pelos fuzis ingleses, em 1919

Monumento dedicado ás vítimas do Jallianwal Bagh, Amritsar

A blogueira, fazendo sucesso entre os indianos de lá

Desenho retratando o massacre

Centro nervoso de Amritsar

O Magnífico e indescritível Templo de Ouro, Meca dos Sikhs

Os blogueiros, com a cabeça obrigatoriamente coberta, no Templo de Ouro

O blogueiro e o guia Jaideep

Enorme fila para visitar o interior do Templo de Ouro

Sikhs, de todas as classes e origens, mais iguais, trabalhando noas obras do complexo do Templo de Ouro

Peregrinos orando no templo de ouro

Os prédios que rodeiam o lago onde está o templo, para servir os peregrinos


O Akal Takht, sede do supremo organismo que dirige os sikhs


Local no templo onde é servida água aos que precisarem, fiéis ou não

A frente do Templo de Ouro

O complexo do templo

Local onde são servidas e preparadas, por voluntários sikhs, milhares de refeições para os sihks ou para qualquer pessoa de qualquer religião, que precisar


O Templo de Ouro merece uma visita, em Amritsar, no Punjab

quarta-feira, 27 de março de 2013

Fronteira Índia-Paquistão - Surreal

Seguidores e Seguidoras,


Ontem foi dia de sair de Délhi e experimentar um dos meios de transporte mais comuns da Índia. O trem, para o deslocamento até a Caxemira/Punjab, cidade de Amritsar. Viajamos na classe executiva mas era tão ruim que ficamos imaginando como seria a econômica. O diferencial foi o fato de servirem comida e bebida quase a viagem inteira, embora tivéssemos feito um fast breakfest no Leela Palace, o que fez com que aceitássemos apenas água. 

Viajamos o tempo todo por uma planície a perder de vista para qualquer lado que olhássemos. Foram 400 kms de terra fértil e cultivada, especialmente de trigo. Imaginamos, pelo que vimos até aqui nas nossas andanças pelo País, que aqui é o celeiro da Índia.

Depois de um pouco mais de 6 horas de viagem, chegamos em Amritsar. Pensávamos que poderíamos encontrar uma cidade um pouco diferente da Índia usual, mas, pelo menos nas proximidades da estação de trem, era a mesma confusão de sempre. A blogueira, inclusive, assistiu uma briga de trânsito, com puxões de cabelo e ameaça de pedrada, enquanto o blogueiro estava sacando dinheiro num caixa automático. Meio assustador. O centro da cidade, todavia, apresentou um pequena melhora, sendo um pouquinho mais organizado.

Depois de um pequeno descanso no hotel, um casarão colonial antigo transformado em hospedagem, partimos para a fronteira Índia/Paquistão, que fica a uns 25 km do centro da cidade. No caminho, uma fila enorme de caminhões estacionados aguardando a entrada no Paquistão. Chegando na fronteira, uma multidão, já que aqui hoje é feriado, postada numa fila para a checagem antes de nos aproximarmos da cerimônia de arriamento das bandeiras dos dois países. Duas grandes arquibancadas, uma de cada lado, para assistir a cerimônia. A do lado indiano, em função do feriado, estava lotada com milhares de pessoas. Do lado paquistanês havia claros na arquibancada. Começou, então, um dos espetáculos mais surreal que já assistimos.

De cada lado, as torcidas cantavam, dançavam e se provocavam mutuamente, com vaias e gritos de guerra. Quando se aproximou as 17 horas, começou o  espetáculo militar. Militares, ricamente vestidos, do lado indiano, com uniforme em tom caqui com turbante vermelho e amarelo. Do lado paquistanês, azul escuro com turbante azul e branco. Vimos melhor o que acontecia no lado indiano. Um dos militares dava um grito de ordem, o mais alto e longo possível, no que era seguido por um paquistanês, um tentando superar o outro em intensidade e duração. Isso se repetiu por várias vezes. Começou então, o deslocamento dos militares até os portões onde, num espaço entre ambos, as bandeiras seriam arriadas. Primeiro duas militares saírem do destacamento e marcharam firmemente até o portão. Depois, um militar de cada vez, após o grito antes referido, saía em longos passos de marcha, o pé ia até a cabeça e era batido vigorosamente no chão e assim, até o portão, onde faziam gestos de provocação para os militares do Paquistão, que faziam o mesmo cerimonial do lado de lá. E o mesmo ritual se repetiu com pelo menos 05 militares. A cada gesto violento dos militares em direção à fronteira, o povão ia ao delírio e entoava cantos e palavras de ordem. O fervor do ódio existente entre os dois lado era latente e ia aumentando de intensidade. Finalmente os portões da fronteira foram abertos, um militar de cada lado se aproximou do outro e tivemos a impressão que se cumprimentaram. Mais uma série de rituais de provocação, as cordas que sustentavam as bandeiras foram desatadas, vários malabarismos desenrolarem as cordas que, afinal, foram cruzadas e as bandeiras iniciaram o arriamento, uma cruzando pela outra. Recolhida cada bandeira com todo o fervor e, depois de dobradas, foram conduzidas em cerimônia até os respetivos destacamentos. Mais um cerimonial provocativo para o fechamento do portão e terminou em êxtase dos presentes, uma das cerimônias mais bizarras e surreal que já vimos nas nossas andanças pelo mundo. Achamos também que nada contribui para o restabelecimento da paz entre dois vizinhos, que já foram um só país e hoje, depois de duas guerras e cada um com bomba atômica, ao invés de buscarem uma paz definitiva, continuam a alimentar o ódio e a vingança.

Hoje será dia de visita ao Templo de Ouro, a meca dos Siks. Tudo certamente estará aqui. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Militares indianos checando a entrada de indianos estrangeiros, para a cerimônia de arriamento provocativo das bandeiras

Destacamento militar indiano de onde partiam os gritos provocativos e os militares que iriam até a fronteira

As duas primeiras militares indianas que marcharam até o portão da fronteira

Marcha vigorosa dos militares indianos até o portão da fronteira

Aqui os militares em ordem unida para, depois de um longo grito provocativo de outro militar, marcharem um a um até o portão

O portão da fronteira já aberto, com militares dos dois países frente a frente

Militares se preparando para a marcha até a fronteira

Início do arriamento cruzado das bandeiras da Índia e do Paquistão

As duas bandeiras se cruzando


Militares indianos conduzindo a bandeira da Índia, já dobrada, para o destacamento

Arquibancadas indianas completamente lotadas



Preparação para o fechamento dos portões da fronteira

Portões da fronteira Índia/Paquistão, novamente fechados

Estátua de um dos marajás que governaram Amritsar

Universidade de Amritsar, num belo palácio