terça-feira, 19 de março de 2013

Rali Gwalior - Orchha


Seguidores e Seguidoras,

Ontem, tendo em vista a ausência absoluta de sinal de internet na suíte do Hotel Amar Mahal, em Orchha, foi impossível postar no blog. Por isso, aqui vai o que vimos em Gwalior e em Orchha.

Na viagem entre Agra e Gwalior, de repente nos deparamos com uma paisagem quase lunar, com uma grande extensão de terra parecendo erodida pela água, formando uma série de pequenas pirâmides de terra arenosa e espécie de cânions em formação. Pelo guia Jaideep foi dito que havia dois lugares na Índia que havia aquele tipo de formação e que elas formavam um labirinto tão complicado que quem entrasse lá, dificilmente acharia o caminho de volta e, por isso, se tornou uma terra de esconderijo dos ladrões da região porque a polícia tinha medo de lá entrar. Relatou ainda que, nas grandes festas feitas naquela região, os convidados chegam todos armados para se protegerem de um eventual assalto dos ladrões que lá residem.

Outro fato que tem nos impressionado nas estradas da Índia, e não foi diferente nesse percurso, são postos de cobrança de uma taxa de acesso de carros de serviço e caminhões, de um estado da Índia para outro. Poderia ser até normal se não fosse o fato de que os postos de cobrança não serem como um pedágio. É num prédio fora da estrada. Assim sendo, os motoristas têm que parar, desembarcar e enfrentar uma fila para o pagamento. Ocorre que no local do posto é estrada normal, às vezes próximas de um povoado, sem nenhum, nenhum mesmo, lugar para estacionar. O resultado é previsível. Todos têm que estacionar no acostamento, sendo que os caminhões, em fila quilométrica, ficam com metade sobre a pista de rolamento. Como a pista fica metade obstruída de cada lado, os engarrafamentos são enormes e alguns motoristas têm que andar distâncias enormes desde seu caminhão até o posto de pagamento. Nunca vimos nada tão irracional para fazer a cobrança de uma taxa de circulação de veículos. Coisas da Índia.

Não tínhamos muitas expectativas em relação a Gwalior. Ela, porém, foi uma grande surpresa positiva e nos impressionou sobremaneira. Primeiro pelo seu enorme forte, o mais grande que já vimos nesta viagem, no topo de uma montanha.

Antes de explorá-lo, todavia, no centro de Gwalior fomos visitar o maravilhoso museu do Jai Vilas Palace. Em estilo italiano, fica ao sul do forte. Foi construído para o marajá de Gwalior, por seu arquiteto, Coronel Sir Michael Filose, no fim do século 19. Ainda é a residência da família dos antigos governantes Scindia, mas parte do palácio foi transformado em museu. O salão mais opulento é o Durbar Hall. Presos ao teto estão dois dos maiores candelabros do mundo, cada um com 13 metros de altura e três toneladas de peso. Antes de serem pendurados, a resistência do telhado foi testada, colocando-se sobre ele diversos elefantes. Ali está exposto o fantástico trem de prata, um brinquedo que transportava bebidas ao redor da mesa de jantar do Marajá, uma majestosa sala, com três ambientes, separados por colunas de mármore branco, cada uma com mesas longuíssimas. No museu do palácio há uma sala totalmente dedicada ao Pai do atual marajá da cidade, que jovem, e político brilhante, faleceu num acidente de avião. Muitas fotos, salas e objetos retratam o estilo inglês, fruto da longa ocupação da Índia por eles.

O sólido Gwalior Fort se extende por mais de 3 km, no topo de um morro de arenito e basalto, com 100 m de altitude. Sua muralha, de 10 m de altura, toda fortificada, protege templos e palácios requintados, dos quais o mais espetacular é o Man Mandir Palace. Construído entre 1486 e 1516, pelo Raja Man Singh, da dinastia Tomar, este Palácio de dois andares é considerado um dos melhores exemplos de arquitetura secular Rajput, embelezado com belos entalhes e treliças de pedra. Decoram a fachada de Man Mandir, azulejos brilhante, com pinturas azul, amarela e verde, que retratam papagaios e pavões, fileiras de pato, elefantes, bananeiras e crocodilos carregando botões de lótus. O Palácio é de uma beleza e conformação ímpares. Seus calabouços labirínticos, foram desde alojamento para os funcionários e damas do palácio, até masmorra dos prisioneiros dos Mongóis, quando eles ocuparam e governaram a Índia até a vinda dos ingleses.

Na forte destacam-se ainda templos hindus, dois deles do século 11, chamados Saas-Badu (mãe e nora) um ao lado do outro, fruto da disputa de uma rainha e sua nora, para ver quem faria o melhor e maior templo. Obviamente que a rainha ganhou. Eles são cobertos com magníficas esculturas de moças e divindades dançando, as quais foram parcialmente destruídas, especialmente suas faces, pelo sultão filho de Shah Jahan.  Entre os templos hindus, o mais magnífico e antigo, do século 9°, é o Teli ka Mandir, templo de 25 metros de altura (o maior do forte), ricamente entalhado. Construído, como dito, no século9° e dedicado ao deus Vishnu tem uma torre incomum, redonda no topo.

Do topo do Forte se tem uma perfeita vista da cidade ao seus pés. Lá ainda se encontra um templo da religião sik, feita em homenagem a um guru dessa religião que esteve preso no Palácio antes descrito e de lá conseguiu sair com vida.

Na descida da montanha, outra grande surpresa que é muito comum na China. Enormes esculturas de deuses jainistas, esculpidas na rocha, formando um conjunto riquíssimo e maravilhoso. Um espetáculo imperdível.

No período noturno, antes do jantar, subimos mais uma vez a montanha para assistir um espetáculo de luz e som, contando a história do Man Mandir Palace, desde as suas origens, suas guerras, batalhas e ocupantes até a atualidade. O jogo de luzes, na escuridão plena do lugar, é um espetáculo marcante e que vale a pena ser visto.

Como se vê, Gwalior, cerca de 230 km de Agra, merece ser visitada por quem vai a Agra e fica limitado ao que lá existe, com essas joias seculares e históricas tão à mão.

No dia seguinte saímos de Gwalior, bem cedo para irmos até Orchha, mais profundamente no coração da Índia. Como dito no título desta postagem, foi um verdadeiro rali. Para fazermos 120 km, demoramos 4 horas e meia. O País e altamente corrupto, conforme seus habitantes nos confidenciam. 25 por cento do valor das obras públicas vão para os funcionários encarregados da burocracia e outros 25 por cento, vão para os políticos. Sobra, se tanto, 50 por cento para a obra. Por isso, acontece o que vimos hoje. A estrada estava em processo de duplicação. As obras de arte parcialmente feitas. Pequenos trechos de estrada asfaltada. Os demais trechos haviam sido mexidos para preparar a base e a obra parou há anos. Resultado. Um verdadeiro rali. Estrada com crateras profundas, não se podendo transitar há mais de 20 km por hora. Poeira e buracos. Vimos o que mais se aproxima do inferno (se existe) aqui na terra. Uma cidade extensa ao longo da rodovia inacabada, com um movimento intenso, em filas, de veículos passando por ali. A poeira era tanta, que se via poucos metros à frente. O que já é pobreza extrema, com as pessoas trabalhando o dia inteiro no meio da poeira plena, com comida de rua e verduras expostas, e as atividades cotidianas em centenas de barracas  expostas ao pó, transformaram tudo numa cena dantesca. Só vendo para se ter uma noção do que é o inferno.

Outra cena inusitada foi uma procissão que tomava toda a rodovia, com pessoas vestidas predominantemente amarelas e com uma espécie de pote na cabeça. Os carros e caminhões tinham que parar e, se possível, passar pelo acostamento com todo cuidado. Imaginávamos que no andor que as pessoas carregavam tinha uma imagem de um dos milhares de santos que os indianos têm. Não era. Era um homem, de carne e osso, vivíssimo, sendo carregado, como um santo, por seus seguidores, estrada afora. Incrível.

Cerca de 4,30 h para fazer 120 kilômetros. Chegamos em Orchha por volta das 13,30 h. Descansamos um pouco do rali que fizemos, e saímos para conhecê-la.

Orchha fica em uma ilha rochosa do rio Betwa. Fundada em 1531, serviu de capital para os reis bundelas até 1738, quando foi trocada por Tikamgarh. Sem conservação, palácios, pavilhões, muros e portas ligados à cidade por uma impressionante passarela de 14 arcos, agora formam tudo o que restou. Os três palácios principais estão simetricamente concentrados. São eles: o Raj Mahal (1560), o Jahangiri Mahal (1626) e o Rai Praveen Mahal (1670), cujo nome homenageia uma amante do rei.

Primeiro fomos conhecer o Jahangiri Mahal. Excelente exemplo de arquitetura Rajput bundela, este palácio foi construído pelo Rei Bundela Bir Singh Deo, e seu nome homenageia o imperador mongol Jahangir, que passou uma noite aqui. Em muitas camadas, o palácio possuiu 132 aposentos acima do pátio central e um número quase igual de túmulos subterrâneos. Quadrado, de arenito, possui azulejos embelezados com lápis-lazúli, chhatris gradiosos e telas de jali ornamentadas.
O Palácio encontra-se um pouco abandonado, apesar de em seu interior ter um hotel do governo. Portas centenárias caídas e com pregos à vista, rachaduras visíveis em paredes de 4 metros de espessura, de um lado a outro e de cima a baixo, estão a esperar conservação, sob pena de desmoronamento, sem contar que estava tudo muito sujo e as salas onde tem afrescos  centenários, estão expostos à luz e à poluição do ar e esperando restauração já que estão se depauperando. Nenhuma iniciativa visível nesse sentido. Apesar de tudo tem belezas passíveis de serem vistas e o visual do castelo, desde a cidade, é poderoso. As vistas do rio Betwa desde os andares mais altos do castelo também valem a visita.

Dali fomos visitar um templo hindu ímpar, especialmente pelo seu tamanho. O Chaturbhuj, em uma combinação única de estilos de forte e de templo, é dedicado a Vishnu e possuiu enormes salões em arcos, que lembram as grandes catedrais europeias e uma agulha alta. Para quem visitou, com nós, outros templos hindus, este é único, pelo seu jeito de catedral católica e, por isso, por ser ímpar, merece visita.

Dali fomos para o mais impressionante que Orschha tem, os cenotáfios, ou mausoléus dos reis bundelas. Dispostos ao longo da Kanchana Ghat no rio Betwa, estão 14 bonitos cenotáfios de governantes de Orschha. Eles lembram o passado feudal de Orschha quando rainhas às vezes cometiam  sati, suicídio, quando pulavam  dentro das piras funerárias dos maridos. Um conjunto arquitetônico magnífico com construções ricamente elaboradas e simetricamente localizadas, a maior parte delas, num jardim fechado, onde se entra mediante pagamento de ingresso. Vale a pena fazê-lo porque o conjunto tem um quê de pirâmides do Egito, guardadas as proporções. São, todavia, artisticamente mais cheios de detalhes e de beleza singular.

Por volta das 20 horas, fomos assistir uma cerimônia de preces no maior templo hindu da região e um dos mais frequentados por peregrinos vindos de todo o país. Chegamos no templo, após tirarmos os sapatos e tudo de couro que portávamos, e lá encontramos os fiéis postados sobre um tapete, defronte a uma porta de prata, esperando sua abertura para visão das imagens dos deuses e ter contato com o sacerdote. Um policial armado de escopeta fica defronte à porta que, a um sinal do sacerdote é aberta e começam cânticos e tocar forte de um sino. Depois, o sacerdote toca as oferendas trazidas pelos fiéis, doces, pães, flores, bombons, etc. fica com um pedaço para o santo e o resto devolve para que os fiéis façam um doação daquilo para quem necessite. Uma experiência diferente e detalhadamente explicada pelo nosso guia Jaideep, que é hindu.

A visita à cidade de Orschha vale pelos mausoléus dos reis, mais todo o conjunto de sítios históricos faz da visita à cidade um programa bem consistente.

Hoje estamos em Khajuraro, a cidade dos templos. Tudo o que veremos aqui, será aqui postado. Até. Beijos a todos. Narcísio e Dirlei.

Terra erodida entre Gwalior e Orchha, refúgio de ladrões

Lugar para pagamento de taxas interestaduais, causadoras de engarrafamentos nas estradas

Os blogueiros, defronte Jai Vilas Palace, em Gwalior

Vitral do Jai Vilas Palace

Trem de cristal, para servir bebidas num trilho sobre a mesa, para os marajás no Jai Vilas

Mesa com o trilho para o trem de bebidas

Lustre de cristal vermelho, no Jai Vilas Palace

Dois dos maiores e mais pesados candelabros do mundo, no Jai Vilas

Visão do Jai Vilas Palace

Gwalior Fort

Man Mandir Palace, no Gwalior Fort

Interior do Man Mandir Palace





Visão externa do Man Mandir Palace, sobre o penhasco do Gwalior Fort



Visão da cidade de Gwalior, desde o Man Mandir Palace

Salão de audiências públicas, do Gwalior Fort


Templo construído pela sogra

Templo construído pela nora, no Fort Gwalior

Visão do Fort Gwalior

Templo hindu, um dos mais altos e mais antigos, no Gwalior Fort


Estátuas de deuses jainistas, esculpidas na pedra, na descida desde o Gwalior fort





Um dos muitos confusos cruzamentos da Índia

Burro no topo do monte de tijolos, ao fundo

Trator super carregado, obstruíndo o tráfego

Cena comum. Cada casa tem um estoque de cocô seco da vaca, para combustível

Procissão com santo vivo, na estrada

Portal do antigo castelo onde hoje se encontra um templo hindu, em Orchha

Jahangiri Mahal, Palácio em Orchha

Represa poluída, no centro de Orchha, para captação da água para a cidade

Visão do Jahangiri Mahal


Salão de audiências públicas do Jahangiri Mahal


Templo da origem da vida

Afrescos no interior do Jahangiri Mahal



Visão externa do palácio




Decoração com pedras preciosas,no interior do mahangiri Mahal

Principal portão de entrada do Mahangiri Mahal


Templo Chatubhuj. Orchha

Interior do templo, em forma de catedral


Principal rua da pequena Orchha

Visão do Rio Betwa que circunda orchha

Os magníficos cenotáfios, ou mausoléus dos marajás, em Orchha






Frente do templo onde assistimos um culto hindu, em Orchha

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